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Um mal benigno.



"Não há males que não venham para o bem." . Li aquela frase no jornal e ela havia se tornado o meu lema a partir dali. Faziam dois anos que eu estava tentando engravidar, mas além de eu ter alterações na tireoide, eu tinha miomas no útero, o que diminuía consideravelmente as chances de eu ser mãe. Me sentia um ser incapaz. Deus havia me colocado no mundo com uma única função: gerar outro ser, mas eu não podia fazer Sua vontade. 

Eu não iria desistir de ser mãe. Se houvesse um porcento de chance, eu teria noventa e nove porcento de esperança. Meu marido propusera que nós adotássemos uma criança. Sim, eu queria adotar, mas eu também queria gerar um ser. Queria viver a sensação de ter dois corações batendo em um corpo só, se assim fosse a vontade de Deus.



Eu estava constantemente estressada, tinha dores de cabeça diárias, e ultimamente estava muito ansiosa. Meu marido insistiu tanto que acabei aceitando fazer uma bateria de exames. Após uns dias, recebemos um telefonema do hospital, o resultado do último exame havia saído, e nós iríamos receber no outro dia pela manhã. Tratava-se de uma Ressonância Nuclear Magnética, e ao chegar no consultório, a expressão do médico me assustou.

Ele nos cumprimentou educadamente, e nós sentamos. Começou a explicar qual era a finalidade do tal exame, e eu notei que ele estava tentando adiar algo. Sem querer parecer grossa ou mal educada, pedi a ele para nos dar logo o resultado do exame, eu já sabia que havia alguma coisa errada.

Ele foi franco. Disse que minhas dores de cabeça eram causadas por um edema cerebral, que podia ser benigno ou não, por isso eu teria que passar por novos exames. Permaneci imóvel. Meu marido entrou em desespero. Eu queria chorar, pedir mais explicações, mas não consegui. E se fosse câncer? O médico, lendo meus pensamentos, disse que pela sua experiência, acreditava que não seria câncer ainda, mas que os novos exames mostrariam uma saída para aquela situação.

Fui obrigada a fazer novos exames, porém, desta vez não quis saber o resultado. Não, eu não sou louca. Mas por que eu iria querer saber o resultado? Se o edema fosse malígno, uma parte morreria assim que soubesse. Se fosse benígno, não iria fazer diferença. Portanto, eu não mudaria de opinião.

Decidi aproveitar cada momento da minha vida, a partir dali. Não desperdicei um segundo sequer. Cuidei de mim, fiz coisas que me agradassem e fizessem eu me sentir melhor. Fui ao parque, andei na roda-gigante, me voluntariei para cuidar de crianças com câncer. Meu avós costumavam dizer: "Quem planta o bem, colhe o bem em qualquer estação." , e foi isso que aconteceu.

No primeiro dia do ano de dois mil e treze, descobri que estava grávida. Não me pergunte como. Milagre, talvez. Eu estava gerando um ser aqui, dentro de mim. Foi a coisa mais especial que já aconteceu comigo. Só sabia chorar. Esperei meu marido chegar em casa, e entreguei um par de sapatinhos amarelos, feitos de tricô. Ele entendeu a mensagem na mesma hora, nos abraçamos e comemoramos do nosso jeito.

Hoje eu estou com um enorme barrigão, à espera da minha princesa linda, que se chama Sofia. E nesse exato momento me pergunto: e se eu soubesse o resultado dos exames? Se eu tivesse que passar por um longo tratamento, será que eu estaria gravida hoje? Acho que não... Passei por tanta coisa, mas no fim tudo fica bem se você seguir seu coração... SEMPRE!


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