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Nicole Blaut - parte 1


Ultimamente minha vida está um caos. Término do ensino médio, a inaceitável Festa de Despedida dos meus amigos de escola, ou melhor, meus irmãos de escola. Sim, irmãos, pois era exatamente isso que nós éramos: uma família. Mas infelizmente cada um teve que seguir um caminho diferente e eu ainda não superei essa "separação". Eu também tive que escolher um caminho pra seguir, e escolhi o curso de Letras, na Universidade Estadual do Piauí. Eu estava feliz com minha decisão, mas um pouco atordoada com a rapidez que tudo aconteceu, sem falar que eu não estava preparada pra deixar a casa dos meus pais e ir embora para outro estado sem previsão pra voltar. Pensar em todos esses acontecimentos de uma só vez me deixa um pouco tonta. 


Um toc toc na porta interrompe meus pensamentos, minha mãe entra no meu quarto com aquela expressão de cachorro sem dono que me parte o coração, e eu continuo achando que ela faz isso de propósito. Ela não diz nada, apenas senta do meu lado e me ajuda a embalar meus livros, uma das poucas coisas que eu fiz questão de levar para a minha casa nova. Meus pais passaram os últimos dias me mimando. Acho que eles também não estavam preparados pra deixar a garotinha deles ir embora. O que me confortava era saber que eles teriam à Valentina, minha irmãzinha de seis anos que era a alegria (e o barulho) da casa. 

Ainda no meu quarto, pedi minha mãe pra me deixar sozinha. Em menos de seis horas eu não pertenceria mais aquele lugar, e isso trazia um sensação nada confortável. Deitei na minha cama e ela parecia mais confortável do que nunca. Comparei-a com um abraço de minha mãe, era a mesma sensação, uma sensação de colheita, de paz e calmaria. Desejei não ir embora. De novo. E de novo. Mas era preciso e eu sabia disso. Desatei o nó que estava à muito tempo formado na minha garganta e permiti que as lágrimas corressem pela minha pele pálida. Não sei ao certo qual era o real motivo daquele choro. Saudade, tristeza, incerteza ou apreensão? Talvez um misto disso tudo. Queria uma prévia do que o futuro reservava pra mim, se eu ia me adaptar à minha nova vida, se ia dá tudo certo... Despertando do meu momento de insanidade, caminhei até o espelho e retoquei meu delineador. Pela primeira vez não me senti poderosa ao usá-lo, a única coisa que eu vi no reflexo daquele espelho foi uma menina frágil que só queria o colo de sua mãe.

Era hora de partir. Eu soube disso porque meu coração estava batendo tão velozmente que parecia estar parado. Desci as escadas com dificuldade. Lá em baixo estavam meus pais fazendo aquela expressão "minha menininha cresceu" e minha irmã, que correu em direção a mim perguntando pra onde eu pensava que ia. Eu não posso chorar, eu não posso chorar. Se eu chorasse eles iam ficar mal por mim também e eu não queria aquilo. Abracei os três e quando estava saindo de casa lembrei que tinha esquecido uma coisa. Subi as pressas pro meu quarto e, desatei o laço que prendia meu amuleto da sorte à cabeceira da minha cama: minha sapatilha de balé!

CONTINUA...



2 comentários

  1. ESPERANDO ANSIOSA PARA LER A CONTINUAÇÃO! by: Nannda

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  2. Yara manda a continuação agr , nao vou aguentar esperar! tá mto lindo o texto

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